O acervo de coleções videográficas do BIEV coloca novos desafios para o pesquisador interessado no uso da imagem em movimento na pesquisa antropológica no contexto das modernas sociedades complexas, urbano-industriaias. Imagens captadas para os mais diversos fins (um documentário, um comercial, uma reportagem, um filme de ficção, um simples registro de pesquisa de campo por parte do etnográfo audiovisual) devem ser decompostas em unidades mínimas (em planos) para serem acervadas em uma coleção de imagens que deve fazer referência às diferentes intenções e aos diferentes contextos de realização de cada “pedaço de tempo” gravado, estetizado em imagem/movimento. Na memória do computador, todos os arquivos de vídeo digital se parecem enquanto dados: diferem apenas em tamanho, formato e duração. Mas enquanto fragmentos de discursos, de narrativas, as imagens fazem alusão a diferentes sentidos, relacionam-se entre si, constroem significados, novas narrativas. E então elas se assemelham e se diferenciam do ponto de vista de linguagens e estéticas audiovisuais. A perspectiva de trabalho do pesquisador do BIEV que lida com tais imagens é a perspectiva da montagem, a operação de decompor fragmentos de narrativas em imagens em movimento, a elaboração de roteiros de edição para criação de novas sucessões temporais, novas narrativas etnográficas em vídeo. E na perspectiva da produção das coleções etnográficas do BIEV, as captações de imagens recentes e/ou de antigas têm sido orientadas para a exploração dos cenários urbanos no contexto da rua, com seus micro-eventos,
personagens, ações e referências espaciais. As imagens produzidas têm sido realizadas sob a descoberta do próprio fenômeno da vida urbana no espaço da rua, com seus arranjos e movimentos, a partir da tradução de suas formas singulares na linguagem cinematográfica, ou, mais sistematicamente, no aperfeiçoamento de notas visuais em vídeo, que apresentam descrições densas das paisagens urbanas e de suas camadas diferenciadas de significado.